quarta-feira, 19 de maio de 2010

Antes que o sol nasça IX

Antes que o sol nasça - Apenas um eterno momento.
(texto verídico)

Ah, emoção que me eleva as estrelas! Ah, emoção que realça as qualidades da minha vida! Como é bom tê-la novamente. Como é bom senti-la a sobressair-se de meu peito! Ah, forte sensação que há tempos eu não sentia... Como este teu êxtase move minha vida, como este teu ar livre percorre meus pulmões, como esta tua energia renova minhas células! Tanto tempo esperei para sentir-te de perto novamente. Quantos dias passei a analisar, pela janela de meu quarto, as longas linhas que promovem o universo, à procura de teu sabor. Ah, prazer do incerto que galanteia minha alma! Lembro-me bem de meus dias auspiciosos, onde eu navegava pelos ares da vida, conciliando o lúdico ao concreto, o ocioso ao ocupado, a presteza dos anos com o vagaroso fechar dos olhos ao dormir, tudo simplesmente para haver-te uma tarde sóbria em meu peito... Ah, emoção pulsante. Leva-me para além dos pensamentos pesados da terra. Leva-me, apenas leva-me...
Ah, que saudades que eu estava!



Luciana Pontes

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ventos

.História verídica.

O relógio marcava duas horas e eu descia do ônibus. As folhas outonais que se espalhavam pelo chão, logo após a parada, fizeram-me sentir as sobras de vida que ventavam com as árvores. Meu olhar percorria a terra que me sustentava... Era um dia nublado e as primeiras brisas frias levavam para longe as folhas mortas, levando junto consigo meus pensamentos. Eu carregava em mente um mau presságio e, em mãos, meus velhos patins. Estava na hora do treino. Encaminhei-me até a entrada do ginásio, enquanto refletia sobre a vida e seu fim. Sentia-me como se a morte se esgueirasse pelos arbustos toda vez que eu olhava para trás. Percorria-me pelo corpo aquela angústia de quem sabe que algo significativo estaria por vir. Guardei minhas reflexões no bolso e iniciei meu treinamento.

Enquanto deslizava por sobre o assoalho, lia assombrações que cercavam minha mente. Havia cenas de filmes, falas de livros e partes da vida, ou tudo que me retomasse o relógio e o fim dos tempos. Aos meus ouvidos chegavam os sons das folhas da rua que caiam na terra, e o rolar cansado de minhas rodas. Preparei-me para um giro. Ao apoiar o chão, numa tentativa simples de manter o equilíbrio, senti que algo aconteceria; e o tempo congelou.

Minhas pernas se enroscaram e eu parecia voar. Minha cabeça mirava o chão e meus olhos mantinham-se fixos no piso. Eu apenas sabia que não podia deixar que meu corpo tombasse de qualquer jeito no solo. Então eu me perdi. Não sabia onde estavam meus braços e meus patins estavam no espaço. Meu corpo apenas se expandia. De repente eu era grande e voava. E voei por muito tempo, até lembrar-me de que o relógio tinha que bater mais um segundo. E bateu. Num instinto, achei uma de minhas pernas (que subia o infinito sem rumo) e joguei-a ao chão. Ouvi a batida da roda do patins e nada mais. Tudo escuro. Nenhum som.




O relógio bateu um novo segundo. Eu passei a ouvir os sons do ginásio, vozes e outras rodas a rodar. Abri meus olhos. O foco demorou - o que eu diria uma eternidade neste meu tempo perdido - a chegar. Havia algo logo a minha frente, e eu me perguntava se era um pedaço de meu próprio corpo ou dos meus patins. Subiu-me uma dor provinda dos joelhos e dos quadris, e eu consegui destinguir o que aquele objeto era. Como numa daquelas cenas de filmes que pairavam sobre minhas ideias, o objeto era algo da qual eu deveria me lembrar. E, embora esta história não tenha trazido grandes aventuras nem fortes emoções, a folha seca que se encontrava, recém focada, a minha frente fizera-me pensar. O mesmo vento que escondeu-me os pensamentos havia trazido aquela folha... A mesma folha da rua. Aquela que sussurava, ao meu ouvido, sobre o resto de seiva que o outono havia lhe tirado, e escondia consigo, e para sempre, qual das brisas a tornara leve o bastante para voar.



Luciana Pontes [sem revisão]

domingo, 9 de maio de 2010

Poesia antiga e infantil

Vasculhei meus arquivos virtuais e encontrei um poeminha meu. É bem simples e foi escrito em 2005, quando eu tinha inocentes doze aninhos. Aí vai:

Olá estranho!
Que bom que você chegou,
Eu nem te conheço,
Nem sei por onde andou.
Olá estranho!
Você não me disse nem oi.
Passou reto por mim
E se foi!
Olá estranho!
Só por um momento
Tive o prazer de te olhar...
Não, não vá embora!
Não me deixe aqui a chorar.
Olá estranho...
Sei que também pode me amar
Mas o meu maior medo é de um dia
Nunca mais te ver voltar.


Err, eu disse que era simples. Não me julguem mal. Escrevi coisas melhores que isso quando jovem. Adeus (mundo cruel).


Luciana Pontes

sábado, 8 de maio de 2010

Com (des)gosto e gentileza

Hoje eu lembrei-me de você. Lembrei de toda sua loucura, do seu mundo desacreditado, do seu jeito de pensar, da cor da letra que você usava no msn e do ponto em que chegamos. Parece que era para ser assim, embora nas nossas histórias os finais terminassem bem, ou, melhor ainda, terminassem juntos. Eu não sinto sua falta, por isso não falo com você. Mas você me traz lembranças. Marcou meu ano. Foi um bom momento, bom enquanto durou. No fundo a gente já sabia que um não ia aguentar o outro por muito tempo. E foi o que aconteceu.

Ficou podre tudo isso que eu escrevi mas, como sempre, quem liga?



Luciana Pontes

terça-feira, 4 de maio de 2010

Mas acabou.

Como eu tenho saudades do ano que passou. A vida era uma novidade e muitos meses ainda estavam por vir. Eu tenho saudades de quando as coisas eram simples, de quando o tempo passava no ritmo certo, de quando tudo dava certo e de quando os sonhos eram de verdade.
Os sentimentos eram outros. A vida era outra. Os caminhos levavam à uma realidade diferente desta em que vivo. Antes, os meus sonhos eram alcançáveis, a minha forma de pensar era leve, e tudo era lindo, e tudo dava certo, e se não estivesse dando certo era porque ainda não havia acabado. Mas acabou.
Agora tudo acabou.
Agora a vida é difícil.
Agora os sentimentos pesam, as pessoas pesam e seus atos também. Hoje eu tenho que decidir tudo, mas eu não quero. Tudo o que mais quero é aquela vida que levava; Aquela brisa colegial que batia em meu rosto e me fazia criar e imaginar, sabendo que ainda havia muito tempo pela frente. Quero voltar a ver o que via, o brilho de olhares, a música, a alegria... E o relógio marcando que ainda não era tarde demais.


Luciana Pontes