Estava eu a procurar, pelas livrarias e lojinhas de um e noventa e nove, materiais escolares e acessórios recicláveis. Qual não foi minha surpresa quando nada encontrei. Isso mesmo, em plena luz do dia, em pleno aquecimento global e no meio de uma crise econômica quase que mundial, eu me encontro encurralada em um mundo sem nada reciclável. Algo como "oi, me jogue no lixo e nunca mais me reutilize". Simplesmente nada. Pode ser que uma epidemia de consciência ecológica tenha dominado o planeta e todos os bloquinhos e agendinhas de anotações com folhinhas tão bonitinhas e amareladas tenham sumido, ou, talvez eu seja a única consumidora ecologicamente correta. Neste mercadão de compra e venda (e empréstimos e roubos), não há nada que satisfaça minha vontade saltitante de gastar meu mísero dinheiro sem destruir metade da natureza. Chocante e hilário, mas eu saí de mãos vazias e bolsos (na medida do possível) cheios. Minha aventura em busca da reciclagem perdida ainda continua. Caminharei e caminharei por estas ruas perdidas e fedidas de Porto Alegre, até encontrar um fichário descente e folhas que não sejam assassinas frias de árvores. Aqui está o meu não-protesto. Um sussurro perante todas os folhetos de "Recicle seus papéis e salve o planeta" jogados no chão e sendo pisoteados por cachorros sarnentos de patas mal lavadas. Antes passar a mensagem de boca em boca do que jogar toneladas de papel fresquinho nas mãos de delinquentes burros matadores de florestinhas. Falei e assino em baixo. Assino mesmo.
Luciana Pontes
Luciana Pontes