terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Folhas assassinas

Estava eu a procurar, pelas livrarias e lojinhas de um e noventa e nove, materiais escolares e acessórios recicláveis. Qual não foi minha surpresa quando nada encontrei. Isso mesmo, em plena luz do dia, em pleno aquecimento global e no meio de uma crise econômica quase que mundial, eu me encontro encurralada em um mundo sem nada reciclável. Algo como "oi, me jogue no lixo e nunca mais me reutilize". Simplesmente nada. Pode ser que uma epidemia de consciência ecológica tenha dominado o planeta e todos os bloquinhos e agendinhas de anotações com folhinhas tão bonitinhas e amareladas tenham sumido, ou, talvez eu seja a única consumidora ecologicamente correta. Neste mercadão de compra e venda (e empréstimos e roubos), não há nada que satisfaça minha vontade saltitante de gastar meu mísero dinheiro sem destruir metade da natureza. Chocante e hilário, mas eu saí de mãos vazias e bolsos (na medida do possível) cheios. Minha aventura em busca da reciclagem perdida ainda continua. Caminharei e caminharei por estas ruas perdidas e fedidas de Porto Alegre, até encontrar um fichário descente e folhas que não sejam assassinas frias de árvores. Aqui está o meu não-protesto. Um sussurro perante todas os folhetos de "Recicle seus papéis e salve o planeta" jogados no chão e sendo pisoteados por cachorros sarnentos de patas mal lavadas. Antes passar a mensagem de boca em boca do que jogar toneladas de papel fresquinho nas mãos de delinquentes burros matadores de florestinhas. Falei e assino em baixo. Assino mesmo.




Luciana Pontes

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A Velha lembrança

A mais velha lembrança que tenho é meio amarelada e silenciosa. É de uma visão mais baixa e mais simples, acho que isso é visão de criança. Bom, ela me trás um sentimento que não posso explicar (isso é irônico, afinal, para nenhum sentimento há explicação) e uma sensação melhor do que a que eu sinto hoje em dia.
Eu estava dormindo, meu sono não era como é agora. Minha mãe me acordou, tudo de uma maneira leve e sem culpa. Eu senti um cheiro de pão-de-queijo no ar, nada melhor do que tomar café da manhã com pão-de-queijo recém saído do forno. Era tudo amarelo, como uma foto velha, mas não tão velha... Foto mais ou menos do ano de 1997, batida por uma máquina de filme com problemas no flash. Eu não sei muito bem o que aconteceu, provavelmente eu levantei e fiz uma rápida higiene pessoal, como todas as crianças fazem. A cena seguinte que tenho em mente é a da sala, eu sentada da mesa de café, meu pai lendo sua Zero Hora, acho que dominical, ao sofá, e minha mãe na minha frente, também tomando café. Minha irmã não sei onde estava, nem tenho muitos registros dela pequena, não antes desse acontecimento. Eu, deliciada com aquele cheio de comida, cheiro de jornal de domingo, cheiro de vida nova, estava limpa por dentro. É uma sensação que não posso explicar, é pureza. No meio de tanta criancice, minha mãe comenta com meu pai que está na hora de matricular as crianças numa escola. Jardim A. Eu nem sabia direito o que era escola, então dei mais uma mordida no meu pão-de-queijo. Uma das coisas estranhas é que eu visualizo a lembrança não pelos meus olhos, e sim por uma visão de fora, câmera focando em cada pessoa e de frente para a mesa, com meu pai ao lado. O que me choca também é que naquele momento minha vida mudaria. Eu não teria mais o café quente de manhã, lá pelos nove ou mais, nem o tempo do mundo para ficar no meu canto, quieta, montando casas com dominó, criando histórias ou tendo idéias... Eu nem tinha idéia do que estava por vir. Nem tinha idéia que eu teria que passar treze anos estudando, para começar uma vida na faculdade, sem antes passar num vestibular. Sim, eu tinha quatro anos e pouco e nada me incomodava, nem mesmo o amarelado da vida, vista hoje pelos meus olhos jovens, cansados e surpresos com a simplicidade que as coisas eram e o sentimento lindo que percorria meu corpo quando tudo era uma brincadeira.


LP
04/12/2008


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Texto sem pé nem cabeça. Só isso

e no fim todo aquele meu amor apenas me rendeu belos textos e longas histórias. Sabe, eu não me arrependo de tudo que passei. Valeu, é valeu, porque eu tenho um passado que jamais será esquecido. Meus anos foram marcados por diversas coisas. E, quer saber, todas essas coisas valem mais do que a pena. O que está reservado para mim no futuro não sei, nem quero saber. Eu amei bastante, ri bastante, patinei muito, e garanto que essas coisas vão continuar. Eu morria de medo de largar meu amor e esquecê-lo. Mas não, não vou esquecê-lo, valeu muito a pena, não interessa como tenha terminado.


Luciana Pontes