domingo, 5 de setembro de 2010

Incêndio no Fondue

(história verídica)

Sábado à noite e gurias animadas: todas prontas para curtir uma rodada de fondue na minha casa. O relógio marcava sete horas e o chocolate e o queijo borbulhavam nas panelinhas.

Na mesa havia pedacinhos de carne, frango, pãozinho, quatro litros de Coca-Cola, moranguinhos, bananinhas, aperitivos, o novo chocolate Delice da Lacta (cuja propaganda televisiva mostra uma mulher se explodindo em chocolates voadores - como se isso realmente acontecesse), canudinhos de chocolate e otras cositas mas. O mundo era pura alegria e fantasia, e as meninas do teatro festejavam a vida em doces e amizades. Contávamos aventuras, amores, risadas, micos: era a própria noite com as amigas. Meus pais, prestes a ir a uma pizzaria, passavam pela mesa e beliscavam pedaços das comidas escaldadas em fondues. Tudo ia bem.

Eu fazia observações, como "gente, vamos cuidar pra não babar o garfo e colocar ali dentro... Só pra não encher tudo de baba", ou "Deia, pega um guardanapo para não sujar a mesa", ou ainda "vamos tirar esses morangos daqui enquanto ainda não está pronto o chocolate", sempre metódica e nojentinha. Meu pai fazia coisas de pai, como bater foto das pessoas comendo, e minha mãe rodeava a mesa de olho na comida.

Havia, no entanto, um porém: A panela utilizada não era aquela de fondue mesmo, e sim, uma de barro que meus pais recém haviam comprado; uma das meninas trouxera um utensílio de pedra  para cozinhar a carne, que (ainda não sabíamos) continha uma rachadura. O óleo de cima da bandeja de pedra, então, pingava na mesa. Foi então que começamos a notar a alta temperatura dos nossos molhos fondues. A coisa de pedra preteava (escurecia) e jogava óleo para cima, queimando as carnes e nossas mãos. 

De repente (não mais que de repente) no meio de uma risada ou outra, a panela de barro se partiu ao meio, derramando todo o queijo-duplo fondue e o álcool sobre a mesa. Ateou fogo em tudo. A chama era alta, inflamava a altura de nossas cabeças, e o álcool de espalhava por tudo. A pedra de fondue pingava óleo do outro lado da mesa, e as carnes queimavam naquele enegrecido. O fogo de tudo era alto e forte e queimador. Todos gritavam e se afastavam da mesa. As coisas queimavam. 

Meu pai, como bom salvador que é, prontamente disse: "Pega a máquina" e bateu uma foto da fúria do fogo. Uma não, algumas. E o fogo crepitava. 

O cachorro, melhor amigo do homem, em vez de latir para alardear os vizinhos, os bombeiros, os santos, quem quer que seja, subiu na mesa de centro da sala e roubou o chocolate Delice da Lacta e foi para sua caminha comê-lo. E as carnes torravam e eu gritava pelo queijo perdido!

Minhas amigas, jovens que são, com seus catorze aninhos e grande talento teatral, tentavam salvar a comida e os cabelos do fogo. 

Foi então que, meu pai, demonstrando o porquê se ser o homem da casa, tacou a mão na pedra quente e queimou os dedos. No entanto, num momento de heroísmo histórico, pegou uma toalhinha de prato e levou a fonte queimadora para a pia. Lá, contou ele, que jogava água em cima e o fogo aumentava ainda mais, tostando a secadora de roupas. Enquanto isso, na sala, tentávamos (sem sucesso) limpar da mesa toda sujeira do queijo e do óleo.

Apagado o fogo e acalmadas as emoções, sentamo-nos de novo a mesa e demos graças pela toalha, altamente inflamável, ter sido retirada antes de toda a função do fondue incendiário.

Por Luciana Pontes