domingo, 21 de março de 2010

Janela

Desgastada de uma noite mal dormida, cansada dos clichês sociais, acordo-me desolada no meio da de madrugada, com os primeiros raios de sol batendo no meu rosto.

Ontem foi dia de festa, festa chata, gritaria e risos forçados; Ontem foi dia de trago, cerveja liberada e copos babados; Ontem não foi meu dia... Pois não saio de casa, não fumo, não bebo e sou péssima companhia. Sou solteira, à solta, e nem sei caçar; Azar o seu.

Hoje acordei antes do sol raiar, com dor nas costas e melancolia: Quem aqui vive a vida que quer? Ninguém, meus amigos, ninguém.
Ontem cansei-me da pose de boa moça, dos sorrisos, dos assuntos interrompidos e dos comprimentos beijoqueiros... Pra que beijar tanto?

Estou deitada na cama, sozinha, tentando abrir a janela do quarto. Renovar o ar me ajuda. Mas não consigo, a janela está trancada. Pra sempre. Chego a pensar em não me levantar mais e esperar que me procurem, mas que ilusão, quem de mim se lembrará?

De repente, ouço do lado de fora um pássaro a cantar. Seria um aviso? Ele canta pousado na árvore que espera ao lado do meu quarto, assim suponho, pois é onde mais próximo se pode chegar de mim. Vou destrancar essa janela.

Num salto saio da cama, meio enrolada no cobertor, os cabelos bagunçados me tapam o rosto, meu pijama está torto e minha casa desarrumada. O pássaro cantor parece que percebe meu movimento e põe ritmo no seu canto. Eu ouço, em pios: "here comes the sun..."

"... And I say it's all right". Respondo, abrindo a janela. E quando a abro, avisto o pássaro, pousado onde eu havia imaginado.

E logo acima, no horizonte, o sol termina de surgir... E, veja só... Está tudo bem.


Luciana Pontes

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