quarta-feira, 5 de novembro de 2008

À Saudade

Prezada Saudade,

Gostaria de lhe dizer tudo que sempre quis nesta carta. Mas creio que não posso. Vossa mercê não se encontra num lugar fixo atualmente, varia de dentro de mim para fora... Isso me mata. Quisera eu um dia poder chegar perto de vós e dizer-vos que já basta: Cheguei ao meu limite. Quisera eu um dia soquear seu nariz e rir à toa. Em mim não doeu nada. Creio que já não haja razão para permanecer em mim, ó santa sinto-sua-falta. Ora essa, dona Saudade, vós que tanto me condena sem motivo, motive-me a viver contigo! Nosso tempo se esgotou, hora de cortar relações, mandar cartões de lembrança natalinos e desejar feliz aniversário, se é que a senhora tem algo de feliz (e de aniversário). Saudade, você é ruim, é lenta, aumenta de mansinho, se espalha em mim, me amaldiçoa. Entrega-me às traças, me deixa acordada, me corta os pulsos. Vossa senhoria que me desculpe, mas vida boa seria aquela onde a saudade fosse conto de fadas. Onde os livros ilustram desenhos fantasmagóricos de pétalas caindo, representando-te.
Como forma de meu desgosto por ti, deixo-lhe esta carta como lembrança, para que sintas, assim como eu senti, saudade da idade em que a saudade era leve, e as lembranças também. Leve-a consigo, a carta, e leia e releia diariamente, até que as palavras nela escrita sejam como oração antes de dormir. Guarde-a e, a sete chaves, destranque-a quando houver perdido a saudade. Saudade, se é saudade, não acaba, que nem amor. Afinal, vossa mercê só se sentirá livre de si mesmo quando tiver a mim por perto novamente, e ninguém sabe quão longe estará minha chegada, prevista para as oito de um dia qualquer desses. Minhas últimas palavras antes da despedida via correio, ora que eu iria ver-te cara-a-cara, são que se cuide, se alimente corretamente e faça exercícios regularmente. A saudade boa é saudade saudável. Não faça-me sair de onde estou para acolher-lhe. Já não basta que tenho meus problemas com você aqui grudada em mim. Em mente. Peço-lhe que me desculpe a demora de envio, minha caneta borrou e minhas costas reclamam do trabalho árduo de escrever. Embora a distância quilométrica, meu pensamento está aí, e o seu, cá. Sinto sua falta, Saudade, e sei que sentes a minha. Não engana-me com teus papos de sempre dizendo-me que vai quase sem mim, ora que você não vai a lugar algum sem mim. Como nos bons tempos, sinta-se abraçada e olhada, com aqueles mesmo olhos cujo são machucados por ti, Saudade que me mata. Saudações e lembranças, de sua velha amiga,

Luciana Pontes

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