quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cai o pano

Encerra-se a peça, apaga-se a luz num fechar vagaroso e cai o pano.

E por detrás das cortinas, os jovens atores caem também ao chão. Suas falas decoradas já voam pela plateia que corre porta afora, jogando uns aplausos. Cansados e deitados no piso, eles que deram sua vida à arte olham para o teto. Já confundem quem é o que... Já são personagens que encenaram.
Incrustaram a dramaturgia tão fortemente que agora embaralham pensamentos com roteiros. São loucos expostos, são almas penadas, são artistas. Os elementares espectadores, ora entediados, nada entendem e partem à procura do fácil. Outra peça, outra história, outras cenas perdidas.
Os atores, que o diretor os tenha, pingam esperança pelos poros. Esperança, esta velha, que ronda e assombra os palcos esquecidos. Humanizam a fantasia e ironizam a vida, gênios apagados. E por detrás do pano que caiu, os deitados se acalmam. Muito esforço terá de ser feito para erguerem-se, terão de permanecer no chão. No chão que os salvou, no parquet que os juntou e em cima do muro que os acolheu. A espera pela vida já faz sentido.
Jogados aos canhões de luz, aplaudidos pela última alma que os rodeia, os muitos guerreiros dramaturgos se olham: Talvez a vida seja mais que um palco.
Um que sai pela porta dos fundos, corre. Corre a toa, pois o seu mundo resume-se ao teatro. Encontra a verdade da rua e volta, há mais aventuras enquanto encena. Vê o seu mundo encantado, idealizado na troca de figurino, perdido em meio a pessoas cabisbaixas. Não capta o olhar do curioso, mas que falta faz este curioso, que morreu tempos atrás. O homem humano extinto, aquele que procurava em si certa arte e não tinha medo de a sentir. O jovem ator, o boêmio, volta a sua posição original: "Se é no chão que o encontraste, é no chão que o verás no final!".
O pó que os abençoa, agora explode em seus olhos fazendo lágrimas escorrerem. Trancafiam a porta e deixam todos ali dentro, como se através da cortina nada existisse. E nada existe, enfim. Os pobres apagam sua própria existência depois de tanto sentir o mundo como ele realmente é. E quando acabam por entender a porta fechada, libertam-se das correntes que os prendiam à realidade, alçam voo e sequer lembram-se da vida que aqui opuseram. Jazem mortos na Terra, mas vivos no espaço.


Luciana Pontes

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