segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O mistério da Velha

Talvez uma nova e curta série do Abra Sua Mente.



Meus olhos cansados, ardidos... Talvez aquela noite mal dormida tenha deixado-me um bocado desgraçado. Belo eu já não sou, mas tenho meus charmes: Meus óculos roídos na ponta (meu rato, ou melhor, meu não, do barbeiro do andar de baixo), minha forma física magricela e meu cheiro de cigarro. Não, eu não fumo. Quem fuma é a prostituta ali da esquina, mulher que conquisto algumas noites por mês, quando sobra uns trocados. E ela nem é de se jogar fora, embora tenha lá seus sessenta anos.

Voltando à noite em claro, velha amiga, não consigo decifrar, entre meus flashes esfumaçados de memória, onde é que eu estava quando tudo começou. A primeira coisa que me lembro é de ter saído com uns tais novos amigos. Depois acordei jogado nos fundos de uma boate gay, escutando um gordo gritando que eu não poderia dançar no lugar dos bailarinos. Logo, fui agarrado pelo braço pelo meu novo amigo, que levantou-me da sarjeta e levou-me até seu apartamento. Lá não enxerguei nada muito bem, mas lembro-me de sentar-me na cadeira e ouvir ele ao telefone. Era tarde demais para uma ligação dessas, mas parecia que ele falava com uma velha. Seus sussuros ao fone diziam mais ou menos isso: "Ei, to com o escolhido. Ele já se mostrou melhor que o anterior: Passou na primeira prova... É, velha, ele é meio idiota sim... Não, não, ele não deu... Está podre. Falou!".

Quem quer que seja esse escolhido, eu não sabia seu nome. Se o cara falou mais alguma coisa com a velha, eu já não estava ouvindo, porque caí da cadeira e desmaiei... De sono!

Agora cá estou, em casa, não sei como, mas imagino que meu caro amigo tenha me trazido de volta. Grande homem! Bêbado aquele dia, acabei achando que tinha perdido meu orgulho, mas creio que tenha sido respeitado até esse ponto. Minhas lembranças, cada vez menores, só me levam a entender que algo muito misterioso e plumoso aconteceu naquela noite vadia... Não apenas minhas memórias dizem-me isso, mas também um guardanapo com o nome de uma tal de Madame Ricardinha e seu número em baixo, seguido de um estranho chicotinho desenhado no canto; E um bilhete assinado com letra de forma, onde lia-se "Depois de amanhã, armazém do Seu José", seguido de uma assinatura falsificada de Arnold Schwarzenegger. Onde quer que eu esteja metido, não é boa coisa. Ninguém em sã consciência usa um pseudômino tão difícil de escrever e marca um encontro no boteco mais fulero da rua. Acho que eu estou encrencado.


[Continua?]



Luciana Pontes

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