sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Maníaco da Pipoca

[História verídica]

Há uns anos atrás, um maluco rodeava minha rua. Seu percurso e suas ações eram sempre as mesmas: toda terça-feira de madrugada ele espalhava centenas de pipocas na frente de um Banco. Ninguém sabia quem era, onde se escondia e por que diabo fazia aquilo. Diziam que era macumba, drogas, safadeza e até mesmo um revoltado que se vingava da sociedade (é, não descartava-se a possibilidade dele ter tentado abrir uma conta ou fazer um empréstimo e não ter tido êxito). Sejam quais forem os motivos, toda manhã de terça-feira, enquanto eu ia para a escola (lá pelos meus ingênuos anos de ensino fundamental), eu passava pelas pipocas e me questionava. Era um processo árduo sair sem pisotear algumas dezenas e ninguém queria ser incriminado (e ridicularizado) ao ser visto seguido por uma trilha de pipoquinhas, sem sal.

Como naquela época eu já sentia um certo fascínio por detetives e espiões, resolvi me apossar do caso. O curioso é que ninguém comentava... Talvez porque soubessem quem era (algum pobre coitado com problemas), talvez porque o que acontecia era uma vergonha para o bairro que "hospedava" um dos maiores bancos do Brasil, ou talvez porque todas as pessoas da rua estavam envolvidas. Era algo a questionar. E eu comecei a me perguntar se apenas eu via aquilo: "Pode ser que seja uma ilusão minha, ou só as pessoas escolhidas podem ver, hmmm". Jogando fora minha hipótese de ser a escolhida para salvar o mundo do mau das pipocas, meu pai disse que também conseguia ver e achava curioso, assim como minha mãe. Tudo bem, a vida não é uma história em quadrinhos... E eu sabia que cedo ou tarde devia me dar conta disso.

Ainda parada no ponto zero e sem muitas alternativas, comecei a observar um pouco mais. Percebi que as pipocas continuavam na outra quadra, e davam de frente para uma casa estranha e abandonada. Da casa não podia se ver nada além de uma porta de vidro meio quebrada e uma escuridão lá dentro. Eu tinha acabado de achar o esconderijo secreto do criminoso.

E assim seguiram-se minhas manhãs: Toda terça eu tomava cuidado com os detalhes e tentava olhar o que acontecia dentro da casa. Uma vez avistei um homem lá dentro. Eu não sabia quem era, e nem era possível distinguir traços além da sua sombra. Provavelmente era o pipoqueiro. Perguntei-me novamente qual o motivo da bagunça e do desperdício de milho. Aquele caso era um quebra-cabeça desmontado e um bocado difícil de se resolver.

O tempo foi passando e até mesmo as terças-feiras se tornaram monótonas e pipoquentas. Havia terças repletas de pipocas, que faziam montes em frente ao Banco. Havia terças com poucas e míseras, e eu cogitava a hipótese de altos índices de inflação nos preços (muito entendida que eu era) ou um descaso do homem-milho.

Eu sinto dizer, mas este caso nunca foi resolvido. Meus instintos espiatórios não foram suficientes para desventar o mistério. A única coisa que sei, é que um belo dia (sim, uma terça-feira pela manhã) o homem da pipoca desapareceu e não deixou seu rastro. Nunca mais eu vi nada além de uma calçada suja. O Banrisul estava salvo, mas o pipoqueiro estava a solta. O grande mistério era se ele iria atacar outros bairros, outros bancos ou até mesmo se trocaria de arma (comida, no caso). Quem viveu lá por aqueles anos, sabe do que falo.

Desde então as ruas de Porto Alegre nunca mais foram as mesmas, primeiramente porque havia um louco à solta, capaz de devastar milharais e deixar algumas galinhas morrerem de fome... E também porque surgia uma nova salvação: Não havia o que temer, enquanto eu estivesse lá pronta para livrar a cidade de qualquer mistério.


Luciana Pontes

3 comentários:

  1. ASDUHIASUDHAIUHIUASHD legal o blog!

    em qual bairro era?

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  2. Nossa! Precisamos de um herói para combater vilões como esse 0o'

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