domingo, 13 de dezembro de 2009

Conto de rua

Sempre imaginei a história das pessoas que passam na rua. Os simples pedestres, ou viajantes, ou nossos colegas de banco de ônibus. Olho para pessoa e começo a criar a vida dela. Certamente já sofreu, porque todos sofrem. Certamente já perdeu um ente querido ou um amigo/amor, ou então uma partida de pife. Com certeza passou por grandes aventuras, viu o que não gostaria de ter visto e já se apaixonou (por alguém ou algo). Se tem as feições marcadas pelo cansaço, defino-a como trabalhadora, que sua pelo sustento de sua família e pelo seu próprio, se não arranjou um chinelo velho ainda. Se veste-se bem, imagino que vai ao encontro de um amigo esquecido ou o amor do momento.

Certa vez vi um casal. Ele era lindo e ela mais ainda. Eles eram perfeitos, modelos, daqueles de comercial de perfume francês. Ela segurava um bouquet de flores roxas, que faziam contraste com teu cabelo ruivo e liso. O homem era loiro, alto, magro. Os dois se olhavam como se jamais fossem se ver novamente e, apesar dos bancos vazios, estavam de pé. Todos do ônibus os observavam, pois eram diferentes de tudo aquilo que já tinham visto. O amor que os cercava era tão grande que brilhava nos seus olhos claros. Os dela verde, os dele, azuis. A vida que lhes voava entrava em todos. Ali, entre a energia que os unia, havia uma vida de contos de livro. Talvez os pais dele não gostassem dela, talvez ele queria largar tudo e viver como artista, talvez ela estivesse grávida e não sabia. Só o que sei é que, na minha simplória volta para a zona sul de Porto Alegre, um casal como Romeu e Julieta se despedia. Eles não trocavam palavras, só olhares, como se já tivessem dito de tudo um para o outro e, ao invés de perderem seu tempo falando, miravam-se como nós ao admirarmos o céu.

Em que parada a vida os separou eu não sei, mas ainda fico a imaginar.


Luciana Pontes

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