domingo, 13 de dezembro de 2009

A vida no espelho

Um dos meus sonhos malucos sempre foi atravessar o espelho.

Imagine: Ver a vida pelo ângulo contrário... Como seria?

Porém não apenas ver, mas viver; Não imagino um mundo ao contrário, não pelo que a imagem nos mostra, mas diferente no sentido de mágico. A vida no espelho seria mágica. Diferentemente também do que nosso reflexo lá pode parecer - ego inflado, egoísmo e alto índice de amor próprio - a sintonia das coisas seria colorida, tudo seria leve e voaria, como nos comerciais da Coca-Cola.

Os prédios dançariam ao som de flautistas, o mar teria ondas redondas, a chuva seria quente, o sol seria eterno e não haveria noite. A noite não existiria porque não sentiríamos sono, não cansaríamos, e a escuridão que ela nos proporcionaria não se encaixaria no contexto colorido do novo mundo.

Ninguém trabalharia, todos estudariam, e não me pergunte como seria a economia, a bolsa de valores e o tipo de governo, porque isso não existe aqui. Pelo menos até onde posso imaginar.

Infelizmente minhas tentativas de atravessá-lo em vida normal foram catastróficas: Alguns espelhos quebrados. Seis, para ser mais exata. (claro que eu não tinha em mente passar meu corpo para o outro lado... Eu queria apenas passar minha maquiagem... Mas alguma força do além - ou minha concentração extrema na hora de passar o lápis no olho - fazia com que o espelho caísse)

A minha imagem de vida no espelho pode pular um pouco os contextos burocráticos e parlamentares da vida socio-econômica que temos - se é que tudo isso faz sentido - e imergir na ilusão protoplasmática verde-água que infestaria o mundo, mas é o que vejo além de minha cara mórbida pela manhã, ao levantar-me e olhar-me no espelho, questionando a integridade das regras que me prendem a realidade.

E viva os comercias da Coca-Cola.



Luciana Pontes

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